Bahia: CD reúne cantigas históricas da capoeira baiana
A capoeira construiu sua história na Bahia e no Brasil através dos ritmos e vozes de diversas figuras marcantes. Algumas canções passaram de geração em geração mesmo sem saber quem é o real autor daquela letra. Outras ficaram marcadas pela sua musicalidade e ritmo, como a Capoeira Regional, que foi criada e disseminada pelo Mestre Bimba (1899-1974) na década de 1920.
Agora, mais do que nunca, essas canções podem ser ouvidas, entendidas e ecoadas. O Largo Pedro Arcanjo, no Centro Histórico, foi palco neste domingo (21) da gravação do primeiro CD com cantigas de capoeira da Bahia. Idealizado pelos mestres Dainho Xequerê e Tonho Matéria, responsável pela Associação Cultural de Capoeira Mangangá, a gravação do álbum, intitulado ‘Quando o Assunto é Capoeira’, reuniu 14 mestres e mestras para eternizarem as músicas.
“Esse é um momento único para capoeira da Bahia. Estamos reafirmando a importância das cantigas e valorizando os mestres. Isso faz com que as novas gerações tenham acesso à real letra, de um modo muito fácil”, afirmou Xequerê.
Entre as vozes que marcam o CD estão os mestres Boca Rica, um dos mais antigos que compõe o grupo, Pelé da Bomba, Bozó Preto, Já Morreu, Buguelo, Gajé, Malícia, Boca (do Maré), Dandara, Nani de João Pequeno e Brisa.
Conversa
Antes da gravação no palco, o evento promoveu uma roda de conversa que reuniu todos os mestres para debater sobre a capoeira e suas funções na sociedade, seguido de uma apresentação da Orquestra de Berimbaus Afinados (OBADX).
O evento também promoveu uma roda de conversa entre os mestres (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO ) |
O tema ‘Eu Também Canto a Bahia’, escolhido para guiar o lançamento do álbum, reforçou o ideal de que a capoeira, apesar de estruturar como um único movimento cultural, é formada por muitas outras vertentes e ritmos, cada um com sua particularidade.
“A capoeira é rica em um conjunto só. Mas, cada um faz o que é melhor para si, desenvolvendo seu estilo. Quem pratica sabe da importância de ter essa liberdade de ritmos”, disse Edenilton, 35 anos, conhecido como mestre Scooby. Neste domingo (21) como espectador, o professor pratica a arte há mais de 20 anos e dá aula no bairro de Luís Anselmo.
Para Carolina, ou melhor, a mestra Brisa, 41, o que une todas as vertentes da capoeira é a musicalidade, é o que conecta os dois corpos, dá o tom do gingado: “É o elemento fundante, que permeia o diálogo daqueles que estão ali. Mas, para você criar essa sinergia, você precisa de uma boa musicalidade”, defendeu.
O CD se tornou a materialização desse movimento. Para Tonho Matéria, além de disseminar e expandir o alcance da capoeira pelo país, a gravação coloca em pauta justamente o que o projeto insiste em discutir: a atuação da capoeira na sociedade.
“A gente discute como levar essa música para dentro das salas de aula, falar sobre cultura, educação e até turismo. As pessoas não entendem que, muitas vezes, é essa prática que leva o jovem ao colégio, que transforma em um grande cidadão”, afirmou o mestre.
Capoeira de Angola x Capoeira Regional
O grande símbolo dessas vertentes apresentadas pela capoeira está na bifurcação, que separa a capoeira de Angola e a capoeira Regional. Criada pelo mestre Bimba (1899-1974) entre as décadas de 1920 e 1930, o estilo Regional da arte altera a formação da roda e como os capoeiristas se comportam dentro dela.
Com uma cadência mais acelerada, o estilo foi pensado para apresentações, e dispensava alguns instrumentos para guiar o ritmo. Entre eles, dois berimbaus, um pandeiro e o tambor, conhecido como atabaque.
Isso ia de encontro ao estilo chamado de Angola, que apresentava uma formação completa com três berimbaus, dois pandeiros e o batuque. Com isso, a musicalidade naturalmente se tornou mais complexa. Segundo Tonho, a variação Regional é “uma capoeira mais rápida e evolutiva”, que se destaca pela instrumentalização.
Fonte: https://www.correio24horas.com.br
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