“CHULA” ANTIGA… “CORRIDO” MODERNO !

“CHULA” ANTIGA… “CORRIDO” MODERNO !

“Santo Antônio é protetor
da barquinha de Noé”… (ou)
“Santo Antônio CONSERTOU
a barquinha de Noé”! (versão)

“A Capoeira está ligada a “Macumba” (péssima expressão), à Umbanda, ao Candomblé… sempre ouvi ISSO, quase como acusação, nos anos 60 e 70, unindo “num balaio” as “duas maçãs podres” — Capoeira e “macumba”, “coisas de negro” — enquanto a Umbanda nascia “meio branca”, Religião, prática (em alguns casos “passatempo”) de gente da classe média de várias Capitais ou de cidades de vulto.


Mas este texto não é tratado de Sociologia ou Teologia. Voltemos à MÚSICA… a detestada Capoeira, que surgiu nas senzalas, sobreviveu à sombra das igrejas, tanto na Bahia quanto em outros locais, “pedindo licença” aos santos católicos e anjos, até nas letras e “implorando a bênção (ou benção, como falavam matutos e reinóis, galegos) aos fiéis de várias castas, das mais humildes aos barões, senhores de engenho e coronéis “do agreste”.

Nossa Capoeira jamais quis ser vilã, porém reagindo a capatazes cruéis o angola, o mandinga, o malê, haussá, nagô usou pés e cabeça, condenando a “Dança”, definindo-a LUTA a ser combatida, exterminada. Músicos “de orelhada”, amadores criativos, o “capoeira” imitou perfeitamente os 2 sinos da catedral do Senhor do Bonfim, o pequeno acima do grandalhão… daí o “silêncio” de segundo e meio entre os “conjuntos” de TIM e DOM (compassos, na partitura) no toque da Angola. Conforme a igreja e a formação dos sinos — em paralelo ou “montados” um sobre o outro — criaram-se o S. Bento Pequeno, a Cavalaria, sinos em profusão. (Haveria uma Igreja de São Bento, em Salvador, cem anos atrás ?)

Nomes de santos, de Maria — como Nossa Senhora, ou “Mãe de Deus”… “cheguei na igreja, / me confessei” ! — permeiam boa parte das músicas, desde os primórdios dela… mas “Capoeira é macumba”, diriam nossos bisavós e avós. Não só mestre Bimba, nos anos 60, como Camafeu DE OXÓSSI, Caiçara e Guimarães do Berimbau (em LP de 1975 com uma ialorixá na capa) gravaram meio disco com o Candomblé de seus ancestrais. Por acaso HÁ BERIMBAU nele ? Alguém já ouviu Candomblé “com berimbau” entre os 3 tradicionais tambores “lé, rum e rumpi” ? Até onde me lembro, os mestres SEPARAVAM (sua) Religião da Capoeira de todos nós ! Surpreendentemente, um certo Onias “Comenda” gravaria o Candomblé sem seus atabaques, em cantochão, o tal canto gregoriano, ainda hoje um espanto !

— “Ei, psiu, você mesmo, camarada… teu Mestre, nos anos 60/70, te ensinou a diferença entre “chula” e “corrido” ?
— “EXPLICOU ?! Jura ? Que milagre foi esse” ?!

Ninguém daquela época teve noções verbais sobre a maior parte das práticas ligadas à nossa Luta, aprendia-se pelo exemplo, comparação, observação. LADAINHA, todos sabiam, eram o canto monótono nas igrejas, nas NOVENAS, 9 DIAS rezando o terço, daí o nome… mais uma ligação com a Santa Madre Igreja. Mas a Capoeira é… “macumba” ! Portanto, queridos evangélicos, podem dormir tranquilos… Capoeira é (só) Capoeira e “Macumba” é crença particular de cada pessoa ! Me preocupa realmente o DESTINO de nossa ex-Dança-Luta, hoje ESPORTE, ensinada no Exterior sem as noções dos fundamentos (?!) que as criaram enquanto FOLCLORE que num distante dia ela foi, quase diria que não é mais ! O que SE CANTA nas Rodas russas, malaias, coreanas, canadenses, gregas, francesas ou daqui da América Lat(r)ina ?! Terão noção, os que as realizam, das implicações da MÚSICA POPULAR que “chulas” e “corridos” sempre representaram (foram e são), contando as agruras, dores, “causos” de seus autores ? “O facão bateu embaixo / e a bananeira caiu” ! “Eu pisei na folha seca / e (ou)vi fazer “chuê-chuá” ! “Vô dizê a meo sinhô / qui a mantêga derramô” ! “Sai, sai, Catarina… / sarta de lá, venha vê Idalina” !

Para a MÚSICA “de Capoeira” novos tempos estão vindo… agora que somos PARTIDO (brasileiro, é óbvio) teremos “ladainhas” para homenagear um Bolsonaro do Chile, um Trump da China, um Maduro da Rússia e outras “maravilhas” da Política ?! Ananindeua, onde “vegeto” sem trabalho nem lazer desde 1986, saiu na frente: podendo titular um troféu com o nome de mestre Walter, que deu aulas mesmo doente, falecendo por volta de 1996 ou 98, os jovens sábios de nossa Arte-Luta escolheram o de um “radialista” local. De valor, com certeza, dono dessas “rádio-cipó”, segundo o povo – “Rádio-bairro”, com caixas de som nos postes — que nunca viu nem de longe uma Roda, embora seu estúdio ficasse ao lado da praça onde íamos sextas, de noite, entre 1987 e 90/91. Dos males, o menor: antes êle do que certa “desgraça” que só fez envergonhar quem praticava Capoeira com respeito e amor. Alguém está PREOCUPADO com o rumo tomado pela Música atual, sem as “amarras” aos conceitos do Passado ?! Vi “ao vivo” Roda de final de ano (2020) na Praça da República, esta de Belém… não reconheci uma só música, “chula”, “corrido”, o que fôr ! A tradição (fundamento ?) de se cantar o VERSO INICIAL como “dica”, como LINHA do refrão, do côro, NÃO EXISTE MAIS ! Parte-se do princípio de que TODOS na Roda sabem letra e melodia e, quase no final, lá está o REFRÃO, que boa parte conhecia, menos eu ! Não faltava mais nada ! Faltava, sim… um “animador” metendo-se ao lado dos jogadores, correndo o risco de levar uma “patada”. Acharam pouco ?! O mestre de vários deles — Roda aberta ou LIVRE, como dizem — foi jogar… quase pararam o som, apenas para APLAUDÍ-LO, politica(gem) pura ! 

Gente, jovens professores e contramestres (ou “formando a mestre… serão a mesma coisa ?!), sou SAUDOSISTA, não nego, porém essa “velocidade” toda cansa a vista ! Não se percebe a MALÍCIA do movimento, ninguém SE ARRISCA em algo “diferente” de queixada, de armada ou meia-lua, até porque NÃO DÁ TEMPO para criar, elaborar golpes. Mesmo essa “Angola Regional” — termo que uso para diferenciá-la da “concorrente” que, por sua vez, agora DIFERE da de Pastinha – essa Angola também é rápida demais pro meu gosto, velhos mestres não conseguem acompanhar. Parece “birra minha”, afinal a Capoeira VAI BEM !

Iremos fazer POLÍTICA nas Rodas futuras, aplaudir só os do “nosso Grupo”, Associação, academia… CANTAR só o que está “nos nossos CDs” ?! É isso que nos espera adiante ?! Mestres “de outras” Religiões — que outras ? a Capoeira NÃO TEM nenhuma ! — “tirarão o que não presta” da Capoeira atual ? Onde foi que li tal expressão ?! A Capoeira VAI BEM… qual Capoeira vai bem ?! Quais Capoeiras VÃO BEM ? Que parâmetros estamos usando para medir o sucesso e o PROGRESSO da Capoeira ? O de mais adeptos nos Estados ?! O de mais academias em outros países ?! O de mais dólares “em caixa” ?! HÁ NA CAPOEIRA em geral, EM TODA ELA, a preocupação do que o iniciante moderno está aprendendo, como está, o quanto assimila ? Precisamos de alunos desinteressados, aprendendo pouco… porque pagam sem atraso ?Foi o tempo em que renomado mestre desta região dizia, sem vergonha, até por não saber o que era isso:
— “Não dou educação a ninguém o aluno que traga (a sua) de casa! !
Será que se foi mesmo tal tempo ou ainda temos Mestres (?!) desse quilate nela ?! 

  “NATO” AZEVEDO (em 2/maio 2021, 10hs)


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