(DES)CAMINHOS DA CAPOEIRA: Entre o que queremos e o que fazemos

(DES)CAMINHOS DA CAPOEIRA: Entre o que queremos e o que fazemos

O antigos sempre diziam…”fulaninho mirou no peixe e acertou no gato”…”eita pessoa de sorte”… Seria bom se fosse sempre assim, ou seja, se o descompasso entre o objetivo final e o caminho para alcançá-lo pudesse sempre ser corrigido pelas mãos do “destino”. Neste sentido, trataremos nas linhas que seguem de alguns desencontros vivenciados na capoeira, considerando a diferença entre o que queremos e aquilo que, de fato, estamos fazendo para alcançar dado objetivo.

É comum ouvirmos de vários capoeiras que os mesmos sonham com a emancipação da arte e conseqüente valorização das culturas populares de matriz africana, contudo, muitas vezes, aqueles que sonham com a tal mudança, são os protagonistas diretos de comportamentos humanos que depreciam a capoeira e toda sua comunidade.

Não é difícil encontrar capoeiras que tem atitudes extremamente violentas em roda, e que quando conversamos com eles sobre suas metas dentro da arte, eles afirmam que desejam ver mais respeito no jogo e valorização dos fundamentos….oxente!….O que é isso? Uma espécie de catarse coletiva?…. O fato concreto é que muitos nem sequer conseguem perceber o disparate entre sua fala e suas atitudes.

Outro dia conheci um cidadão que FORA da roda era calmo, manso, falava sobre educação e respeito em suas aulas, defendia a cultura de paz em suas palestras dizendo que a capoeira é um excelente instrumentos para este objetivo, até mantinha uma vida saudável, alimentação vegetariana, fazia Yoga, e, pasmem, quando ADENTRAVA o espaço da roda, se transformava no pior dos indivíduos, despropriado de qualquer senso de cuidado consigo e com o outro, só querendo jogar pra cima, veloz e sempre fora do ritmo da bateria, em franco “ataque epiléptico”, combinando vaidade e desatenção com o que fala e deseja em seu estado de “repouso”. Quantas vezes você se deparou com um capoeira destes?… Pois é!?

Outro dia li um texto de um destes “revolucionários do minuto”, aqueles que não conseguem nem equilibrar suas próprias vidas, mas se arvoram a “lutar” pela humanidade… (só rindo)… No texto, este indivíduo, em tom eloqüente, defendia a importância dos editais públicos para os antigos mestres de capoeira, mas, contraditoriamente, a mesma figura do discurso bonito estava envolvida com atos ilícitos na gestão de verba pública de editais… Epa!!! Pára tudo !!! É muita loucura e/ou falta de caráter…

Em tempos de forte discussão sobre a regulamentação profissional da capoeira, por exemplo, tenho visto muitas pessoas defendendo o respeito as diferenças e o amplo exercício democrático, contudo, ao mesmo tempo, apóiam uma lógica de gestão para a capoeira que estabelece uma reserva de mercado controlada por uma CRECA (Conselho Regional de Capoeira) que, possivelmente, será capitaneado por pequenino “grupinho” de egos desfilantes… Ahhhh, CRECA foi um termo cunhado pelo amigo, Mestre Jones Birro Doido, que retrata com maestria a “ferida” aberta em nossa arte… Minha gente, cadê o bom senso dos defensores da tal CRECA?

Pense comigo outra situação… Quando algum capoeira, dizendo-se “ativista étnico” em favor do povo preto, jogam com identidade totalmente vinculada a lógica de ocidentalização da capoeira, valorizando exageradamente a performance individual, a espetacularização do jogo e um profundo esvaziamento ritualístico, negando muitos dos princípios afrodescendentes, o que ele DE FATO representa? Se nem ao menos se percebem fortalecendo um formato de capoeira que NEGA e negligencia sua própria ancestralidade, NÃO estaria ele depondo CONTRA sua “bandeira de luta”? Isso é ingenuidade ou má fé?

Ou seja, qual a ligação entre o que falo e o que faço? Entre o que desejo e o que faço para alcançar? Se pudermos lembrar que “Quem planta colhe”, que “Se plantas limão, só poderás colher limão”, e que “tudo que semeias, cedo ou tarde, terás que colher” TALVEZ comece a se perguntar “O que estou plantando?” para ver se, de fato, COLHERÁS o que desejas!

Axé!

Ei, psiu, gostou? então compartilha, ajude nossa arte a refletir e crescer!

 

Por: Mestra Brisa e Mestre Jean Pangolin

 

Coletivo Capoeiragem

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