Diversidade e resistência marcam abertura do Fórum Social Mundial
Evento é realizado em Salvador, palco histórico de lutas negras e populares. “Outro mundo não é só possível, é urgente e necessário”, diz presidente da Unegro
São Paulo – Por volta das 15h desta terça-feira (13), a movimentação já era intensa no Campo Grande, local de concentração da tradicional Marcha de Abertura do Fórum Social Mundial (FSM 2018), em Salvador. É a primeira vez que o evento é realizado em uma cidade do Nordeste desde que foi criado, em 2001.
Diferentes grupos, bandeiras e lemas se misturavam em harmonia. Uma comunidade indígena do sul da Bahia realizava o “toré”, ritual sagrado que celebra a amizade, enquanto ali próximo um grupo agitava faixas em defesa da reforma urbana e da luta por moradia. Não muito distante, uma agitada roda de capoeira atrai a atenção. “Capoeira é uma luta de resistência. Trazemos a tradição e o legado dela, além de uma capoeira empreendedora. É a luta por resistência, negando o opressor dentro das comunidades”, afirmou Tonho Matério.
Conforme a tarde avançava, outros grupos marcavam presença na concentração da Marcha de Abertura. Entre eles, Ângela Guimarães, presidenta da União de Negros pela Igualdade (Unegro). “Vivemos tempos difíceis em âmbito global. Governos que reprimem e incentivam uma economia que não cabe o povo, só o mercado. Esse Fórum é também um grito pelo direito à vida, o direito de existir e resistir”, disse Ângela, durante transmissão feita pela TVE da Bahia. “É um brado contra o genocídio da mulher negra, contra o ódio religioso que atinge as comunidades de matrizes africanas no Brasil. Outro mundo não é só possível, é urgente e necessário.”
Após sair do Campo Grande, por volta das 16h30, a Marcha de Abertura do Fórum Social Mundial passou pela Avenida Sete até chegar a Praça Castro Alves. Conhecida como “Praça do Povo”, local de grandes manifestações de luta e resistência baiana, na Praça Castro Alves um palco com apresentações culturais e performances artísticas encerra o primeiro dos cinco dias do evento, que continua na capital baiana até sábado (17).
Bahia, palco de lutas
O evento terá como território principal o Campus de Ondina, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), além de outros locais da capital baiana, como o Parque do Abaeté, em Itapuã, e o Parque São Bartolomeu, no Subúrbio Ferroviário da cidade. Segundo os organizadores, são esperadas cerca de 60 mil pessoas, de 120 países, reunidas para debater e definir novas alternativas e estratégias de enfrentamento ao neoliberalismo, aos golpes e genocídios que diversos países enfrentam na atualidade.
Com mais de 1.500 coletivos, organizações e entidades cadastradas, e em torno de 1.300 atividades autogestionadas inscritas, o Fórum Social Mundial reunirá representantes de entidades de países como Canadá, Marrocos, Finlândia, França, Alemanha, Tunísia, Guiné, Senegal, além de países sul-americanos e representações nacionais.
Antes do início da Marcha de Abertura, também em entrevista para a TVE da Bahia, Gilberto Leal, diretor de Entidades Negras da Bahia, destacou a importância do Fórum Social Mundial se realizar desta vez em Salvador, um território de forte presença negra e, consequentemente, também de resistência – justamente o slogan do FSM: “Resistir é criar, resistir é transformar”.
“Temos um forte legado de resistência nesta cidade e neste estado”, afirmou Gilberto Leal, lembrando da Revolta dos Malês – um levante protagonizado por escravos em Salvador, em 1835 – e da Revolta dos Búzios, de 1798, quando a capital baiana amanheceu com diversos cartazes colados em prédio públicos proclamando a população à luta armada e defendendo o fim da escravidão.
Na mesma entrevista, Salete Valesan, diretora da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), ponderou que o FSM, após nascer em Porto Alegre, em 2001, e depois ser realizado na Índia, Quênia e Senegal, ao voltar para o Brasil e, principalmente para a Bahia, tem um significado importante. “Era mais do que justo e natural que esse processo construído fizesse o trabalho de voltar para o Brasil e, agora, para a Bahia e Salvador, onde fazemos uma ponte com nossa história mundial, ligando África e Brasil”, disse.
Entre as mais de 1.300 atividades que ocorrerão nos próximos dias em Salvador, numa programação diversificada e autogestionária, Gilberto Leal, diretor de Entidades Negras da Bahia, destacou a que o grupo realizará quinta-feira (15) de manhã: “Diálogos Internacionais – Convergência de lutas negras entre África e a diáspora no século 21”.
“Nossa ideia é instalar uma rede mundial que troque experiências entre a luta dentro da África e a luta na diáspora”, afirmou, ressaltando que os negros representam cerca de 1,5 bilhão da população mundial.
Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br
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