ESPELHO, ESPELHO MEU, EXISTE ALGUÉM MAIS IMPORTANTE DO QUE EU?
: pensando no capoeira Narciso
Por: Mestra Brisa e Mestre Jean Pangolin
Você já conheceu algum/a capoeira que só pensa em si? Que na roda, geralmente, se acha o rei do pedaço, sendo sempre o mais importante? Que não consegue admirar eventos de outras pessoas, pois os seus são sempre os melhores!? Que só se atrai por projetos que alimentem a sua vaidade? ” Pois é! Neste texto trataremos do “Capoeira Narciso”.
O capoeira vaidoso assume todas as características do narcisista? Mas o que é isso? Conta-se, lá na Grécia, que Narciso era um homem muito belo, que por ser esnobe, acabou recebendo uma maldição, na qual só poderia se apaixonar por alguém que o desprezasse. Advinha por quem ele se apaixonou? Pela sua imagem refletida na água! Por não ser correspondido, acabou definhando e, ao mergulhar para possuir o ser alvo de sua paixão – o seu reflexo, acabou morrendo.
Narcisismo é um termo que refere-se a vinculação de uma pessoa a si mesma, ou seja, é aquele individuo que possui um interesse exagerado e doentio em suas próprias questões, necessitando da aceitação e aplausos dos outros, pois seu inconsciente esta repleto de registros infantis negativos da sua invisibilidade cultural e, conseqüente vazio existencial, portanto, existe uma “ordem” ao consciente para que sempre busque fora a deferência alheia, no sentido de neutralizar a ansiedade neurótica latente dos registros de “criança ferida”.
O Capoeira vaidoso se imagina “imortal” e superior aos demais indivíduos, não admitindo absolutamente nada que esteja fora do âmbito de seu interesse particular. Muitas vezes, quando algo ou alguém atenta contra seu “espaço de poder”, sua frustração se amplia, demasiadamente, evidenciando um estado agressivo em seu comportamento contra tudo e todos. A raiva e o rancor tomam conta, como uma resposta consciente da demanda de proteção gerada pelo inconsciente, denunciando uma grande fragilidade emocional.
Quantas vezes vemos o/a capoeira que por vaidade, deixam de produzir algo de bom para todo o coletivo, pois não achou que a proposta lhe projetasse enquanto indivíduo? Quantas vezes vemos brigas de capoeiristas, por que simplesmente, sua ideia não “venceu” numa determinada discussão? Quantas vezes vimos rodas maravilhosas acabarem por conta de um/uma capoeirista, que chega e acha que só quem deve jogar é ele/ela, tirando o direito de todo o resto? Quantos grupos se dissolveram pela incapacidade de um dos integrantes de recuar? Quantos mestres/as não passaram anos sem se falar por conta de vaidade? Quanto desperdício da potência coletiva…
Para enfraquecer o Narciso que há em nós, basta lembrar da filosofia que nasce dentro da roda de capoeira, na qual sendo organizada por uma bateria de instrumentos, possui três berimbaus – Gunga, médio e viola, no qual independente do Gunga ser considerado quem vai dar o tom, dizendo qual ritmo e tipo de jogo, não vive sem seu conjunto que o acompanha e estrutura todo a energia vital da roda!
Portando lembre o ditado que diz que “nenhum de nós é tão bom, quanto todos nós juntos”!
Axé!
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