Guarujá-SP: Uma comunidade à procura do mestre
Um exemplo de ser e estar… Capoeira uma escola de cidadania… Um verdadeiro MESTRE na arte da capoeiragem e da vida!!!
Nos trabalhos de resgate do Morro do Macaco Molhado, no Guarujá, no litoral de São Paulo, chama a atenção a presença de jovens na faixa dos 20 anos. Grande parte está ali à procura daquele a que se referem como “padrinho”, “irmão” ou “mestre”, com quem aprenderam sobre a capoeira, a cultura afro-brasileira e a vida: o líder comunitário Rafael Rodrigues, de 33 anos, um dos desaparecidos no temporal que atingiu a Baixada Santista. Até a noite desta quarta-feira, 4, eram 25 os mortos na Baixada Santista por causa das fortes chuvas.
Rafael estava preocupado com os efeitos da chuva desde a noite de segunda. Naquele dia, às 23h59, fez a última publicação em uma rede social, na qual alertava sobre a situação, e saiu de casa em plena madrugada para ajudar no resgate de vítimas em uma encosta do bairro vizinho, no Morro do Macaco Molhado, também chamado de Morro Bela Vista.
O professor de capoeira Rafael Rodrigues subiu o morro, em Guarujá, no dia do temporal e tentava ajudar pessoas soterradas. Houve um segundo desmoronamento e ele foi um dos atingidos. No mesmo morro, outro Rafael, marido de Gisele, também perdeu a vida tentando salvar outras pessoas. Ele levou os 7 filhos para um lugar seguro e decidiu voltar para ajudar os demais moradores.
Chuvas na Baixada Santista: conheça a história de duas vítimas que tentaram ajudar outras pessoas
Foi atingido por um segundo deslizamento com outro voluntário e dois bombeiros, os cabos Moraes e Batalha. Com exceção de Moraes, os demais estão desaparecidos, soterrados sob a lama e o entulho.
Rafael se tornou o mestre de outros tantos meninos e meninas ainda adolescente, quando começou a dar aulas de capoeira em um abrigo há mais de 20 anos. O projeto cresceu e mudou de nome algumas vezes até se tornar a Associação Cultural Afroketu, de capoeira, percussão e danças afro-brasileiras, que atende hoje mais de cem crianças e adolescentes. “Ele é um pai para todo mundo, um amigo, irmão. Dá conselho, briga quando precisa, faz tudo”, diz mestre Sandro, de 41 anos, outra liderança do Afroketu. “Vieram (pessoas do projeto para o resgate) porque ele sempre se doou para todo mundo.” Hoje professor do Afroketu, Daniel de Moura, de 28 anos, começou como aluno há 12 anos. “(A associação)é uma família, um pelo outro até hoje. E o Rafael é um pai para todo mundo.”
Atuação
Produtor cultural, Rafael tem filhos e estava no último ano da graduação em Direito. É assessor de Políticas Públicas Para a Juventude na prefeitura do Guarujá há três anos. “Encontrei com ele na última semana e estava feliz, empolgado com os conhecimentos que ganhava (no curso de Direito), em como isso poderia ajudar mais a comunidade”, diz a professora Roseli Alexandre, de 54 anos, que acompanha o trabalho de Rafael desde a adolescência. “Todo dia, passava às 21, 22 horas na frente da sede do projeto e via aquela gente toda envolvida. Agora nem imagino como vai ser.”
Também professor, Luiz Alexandre, de 60 anos, diz que Rafael tem atuação que vai além do Guarujá, envolvendo-se em projetos em outras cidades da Baixada e do Estado. “É um verdadeiro Zumbi da modernidade, ele nos dignifica, nos representa. Um cara que não espera acontecer.”
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Na Baixada Santista, foram contabilizados 32 óbitos e 47 desaparecidos
A Defesa Civil do Estado informa que as chuvas extremas que incidiram sobre a região da Baixada Santista na madrugada de terça-feira, 3 provocaram, até o momento, 32 óbitos e 47 não localizados, nos seguintes municípios: Guarujá (26 óbitos e 42 não localizados), Santos (4 óbitos e 4 não localizados) e São Vicente (2 óbitos e 1 não localizados). O número atual de desabrigados é de 249 em Guarujá e 185 em Santos.
Foram disponibilizadas 30,5 toneladas de materiais de ajuda humanitária aos municípios afetados, sendo: 15,6 toneladas (colchões, cobertores, cestas básicas, roupas, água sanitária, kits de limpeza, kits de higiene e água potável) para o depósito do Fundo Social de Santos de onde serão distribuídos, mediante solicitação, às defesas civis municipais; 11 toneladas (colchões, kits higiene, vestuário e limpeza, cestas básicas, água potável e fita de isolamento) a Guarujá; 2,9 toneladas (colchões, cestas básicas, kits de higiene, limpeza e vestuário) a Peruíbe; 1 tonelada (colchões) a Santos.
Além disso, foram disponibilizados equipamentos de proteção individual (luvas de raspa e capacetes) e baldes para o mutirão de voluntários que está atuando em apoio às equipes de salvamento nos cenários de ocorrência de Guarujá.
O Diretor do Departamento Estadual de Proteção e Defesa Civil, Tenente-Coronel PM Henguel Ricardo Pereira, e equipe, permanecem na região, em reuniões com o Gabinete de Crise, avaliando as necessidades e a atuação das equipes de salvamento.
No Diário Oficial do Estado do último dia 4, o Governador João Doria homologou sumariamente os decretos municipais de situação de anormalidade de Guarujá (estado de calamidade pública), Santos e São Vicente (situação de emergência). No dia seguinte, esses decretos foram reconhecidos sumariamente no Diário Oficial da União.
Nas últimas 24 horas, a contar das 6h de hoje (6), foram registrados mais 2mm em Guarujá (65mm em 72h), 12mm em Santos (46mm em 72h) e 7mm em São Vicente (53mm em 72h).
A sexta-feira (6) começou com sol na Baixada Santista. No entanto, devido aos ventos úmidos que continuam soprando do oceano em direção à costa, continua a previsão de chuva fraca no período da tarde e noite, porém sem risco de temporais e grandes acumulados. Já para amanhã (7), a mesma condição permanecerá e, no período da noite, haverá condição para chuviscos bem isolados por toda a região.
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