Nato Azevedo: 1990 – REGISTRO HISTÓRICO

“A CAPOEIRA, filha da Terra, está sendo esmagada de pé!”
mestre NATANAEL, 1972, SP

Escrevo às 3 da manhã desta quinta-feira, já no final de um ano que só trouxe tristezas para todos, principalmente para quem votou em 2018. Escrevo ainda impactado pela filmagem de evento de 30 ANOS atrás que, pela ordem natural das coisas, nem deveria existir… mera fita VHS, perdida entre 20 outras, em maleta que nossos gatos decidiram transformar em impróprio “mictório”. Por mais de 30 dias nos assaltou a dúvida: as imagens nela teriam resistido ao Tempo, “devorador” de tudo ?! Pois aí está, graças mais uma vez ao Grupo MUZENZA — que trouxera à vida filmagem nossa de 1975/77 no Rio — esse registro da Capoeira “de Belém” em 1989/90, no então bairro de Marituba, pertencendo naquele tempo a Ananindeua. Na verdade, apenas pequena parte dos jogadores nessa fita era da Capital. Anote-se o fato de que o “Batizado” de Capoeira de mestre “BETO”, no qual virou mestre de fato, foi muito concorrido… não sei se houve outro com tantos professores, contramestres na época, um ou outro já se afirmando mestre. 

Eu tinha visão depreciativa de alguns deles enquanto praticantes… me penitencio com 3 décadas de atraso, vi-os em suas Academias num dia em que não estiveram bem. Nessa fita estão todos MAGNÍFICOS !Você que DETESTA Capoeira, que a julga sem conhecê-la, “coisa de vagabundos, de quem não tem o que fazer” — no dizer de nosso prefeito, evangélico, no início de 1989 — tem a obrigação de ver esse vídeo, admirar a extrema habilidade dos então professores e surpreender-se com o aproveitamento de alunos de 7, 9 ou dez anos, enfrentando sem temor alguns oponentes bem mais velhos.

Foi essa Capoeira — com esta qualidade ímpar — que sonhamos mostrar em junho de 1988 no CENTUR, inaugurando um Centro Cultural que só nos trouxe decepção e frustrações. Era essa Capoeira, essas imagens, que seriam enviadas ao Exterior na época, para vários países, pessoas do Canadá, Polônia e Alemanha, que nos escreveram curiosas para conhecer a Capoeira “do Brasil”. E essas imagens estariam ainda em cadernos, toalhas, postais, onde pudesse… sonhos que evaporaram, não tendo ficado nem as cartas do CCCP que, segundo soube ontem de noite, os cupins devoraram. Com isso, perdi a chance de identificar com exatidão a data da “formatura” do admirado “Beto”, benquisto por todos. Tentara eu conseguir junto a deputada federal Socorro Gomes — na época em campanha eleitoral aqui — ajuda que diminuísse as despesas do mestre, num tempo em que o professor arcava com o peso da compra das diversas cordas, com fotos, salgadinhos, refrigerantes, aluguel do espaço, etc. Talvez só ela, se viva fôr, possa esclarecer a data exata, provavelmente entre setembro e novembro de 1989 (período eleitoral), para a qual enviei 2 ou 3 cartas com a “chancela” do CCCP, pedindo apoio para o Grupo de Capoeira “ESCRAVO BRANCO”. Como ficou “me cozinhando em banho-maria” mandei ela e seu dinheiro às favas, porque “para o LIXO que era a Política ela não hesitava em gastar, doar”! Hoje, 2020, com dinheiro federal a rodo, continuo vendo a Capoeira FORA de todas essas benesses, esses projetos de auxílio, essa ajuda oficial. Não mudou coisa alguma em 30 anos, quem diria !

Mas, estamos bem pagos ! Ouvimos o registro emocionado de mestre DILSON BRITO, sempre em Marituba, se vendo quase menino, com todas as recordações que as imagens lhe trouxeram, trarão a quantos as assistirem. Resposta do côro segura, festa sem confusão, jogos belíssimos, inesquecíveis quase todos, com movimentos antigos lindamente recuperados. Surpresas de todo tipo, pessoas que nunca mais vimos, alguns poucos largaram a Capoeira ou morreram ! 

A registrar, um certo MAX, aluno do Imar naqueles tempos, hoje mestre “MAR”, com seu Grupo (no SESC em 1990) se expandindo Pará a fora. Adiante, o tal Max iria para o MMA, com carreira curta mas expressiva, para a Capoeira não tinha muito jeito. Minha contribuição nessa histórica fita foi levar o escritor Carlos Ano Bom para registrar o evento. Ao final, falo minuto e meio — que ninguém ouviu — e tem-se o raro registro de meu irmão “Carioca” / “Leiteiro” (em 1h13 min. da filmagem) jogando… sabe-se lá o quê, meio Angola, meio Regional, muito “Lua Rasta”, quase uma “xerox” do famoso Mestre, aluno que foi.  ASSISTAM!

Embora o assunto me entristeça (e aborreça), preciso esclarecer — com 3 DÉCADAS de atraso — equívoco que eu mesmo provoquei, ao declarar ao jornal DIÁRIO DO PARÁ em 4/jan. 1990 o recebimento “em breve” de 1 MILHÃO de cruzeiros da época, algo entre 120 e 150 mil reais hoje. Era o “trôco” que eu dava porque certo Ministro de Collor viera ao nosso bairro e distribuíra 32 contratos de verba para diversas ONGs (nem tinham esse nome), meras farsas boa parte delas, além de Centros (ditos) Comunitários que sequer possuíam mesas ou cadeiras, 1 TV velha para distração, pingpong, jogos de dama ou dominó de 5 reais… NADA, absolutamente nada, só “funcionando” em época eleitoral, ou seja, a cada ano e meio. Devo ter dado enorme susto ao tal Ministro, que acordou certa manhã vendo/lendo página inteira de projetos PARA A CAPOEIRA, êle que nada destinara à atividade. Mesmo assim não negou a “doação” fantasma, “cacifou” a “fake news” a seu favor ! Entretanto, com a gente morando numa “favela” do Icuí (“invasão”, aqui no Pará) julgaram alguns que os gêmeos cariocas “estavam nadando em dinheiro” e que o tal Centro – CCCP… “era só bandalheira, safadeza e picaretagem”.

São águas passadas que nem valem a pena recordar… curtam pois estas belas imagens produzidas graças ao contramestre SAN, deem LIKE no canal CTC SAN MUZENZA, ( https://youtu.be/qMaob-RI1Ss ) divulguem, compartilhem. E aguardem que vem mais aí, há dúzia e meia de fitas VHS esperando a hora de serem reveladas, Tem muita surpresa para chegar !

Esse RESGATE da História da Capoeira paraense necessita continuar e ampliar-se sempre mais !   

“NATO” AZEVEDO (em 17/dez. 2020, 3hs)

OBS: por suprema ironia do Destino, a pessoa que mais criticamos (e combatemos em 90/92) é a que mais impressiona, com um jogo objetivo e criativo, fazendo jus ao título / corda / graduação de MESTRE, que lhe negávamos naquela época.

Como essa filmagem o engrandece… ESTAMOS QUITES ! (NATOAZEVEDO

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